Assistimos a Deadpool
|Todos os temores sobre o que Ryan faria ao interpretar o mercenário desbocado mais uma vez desaparecem nos primeiros minutos do longa. O timing de humor do roteiro é impecável e consegue arrancar risadas das plateias nos momentos mais improváveis, quebrando a quarta parede com efeito humorístico já nos créditos iniciais, por exemplo.
Piadas dessa natureza são frequentes, especialmente para citar outras obras, clichés, alguns heróis e os atores que os interpretam. Wolverine é um dos principais alvos, mas os outros X-Men não escapam ilesos.
Mas o Deadpool não é só um cara engraçadinho. Ele é um mercenário sem nenhum dos princípios éticos ou códigos morais que costumam guiar super-heróis. Por conta disso, os malvados da história tem um fim bem mais rápido e incomparavelmente mais brutal que qualquer longa de herói de quadrinhos.
Deadpool é uma história de origem do personagem e como ele passou de Wade Wilson, um mercenário sem escrúpulos e com um diagnóstico de câncer terminal, para Deadpool, um super-mercenário completamente insano e praticamente imortal. Não há grandes ameaças ao mundo ou centenas de pessoas em perigo, só um cara com sede de vingança e um criminoso que mexeu com a pessoa errada.
Brutalidade, palavrões, mutilações, nudez, sexo e tortura não são aliviadas nas cenas. Não há cortes de câmera para evitar mostrar sangue e vísceras voando pela tela. Não é um filme adequado para crianças, recebeu classificação indicativa de 16 anos, e isso é ótimo nesse caso específico.
O par romântico de Wade Wilson, Vanessa Carlysle (Morena Baccarin) é uma mulher forte, independente, completa, cuja loucura combina com a de Wade. Nenhuma das cenas de sexo parece gratuita, só mostram um relacionamento divertido e apaixonado entre dois adultos que estão dispostos a experimentar coisas novas e a ouvir músicas melosas.
O único deslize em relação à moça é colocá-la em uma posição de donzela em perigo em certo momento da história. Considerando todos os clichés que são zoados ao longo do filme, apelar para um momento assim é um pouco desnecessário.
Colossus aparece na aventura para fazer um contraponto com o Deadpool. Ele tem um jeito quadradão e certinho que é o extremo oposto do mercenário desbocado. Já a Míssil Adolescente Negassônico é um meio termo entre os dois. A garota não parece se importar com muita coisa além de redes sociais e de fazer comentários ácidos ocasionalmente.
Estes X-Men são escolhas improváveis para auxiliar o mercenário, mas assim como quase todas os elementos que podem parecer absurdos no roteiro, como a trilha sonora que mistura Wham!, DMX, Juice Newton, Salt-N-Pepa e Neil Sedaka, eles funcionam.
Tim Miller, o diretor do longa, se diz um apaixonado por quadrinhos, e é fácil acreditar nessa afirmação assistindo ao longa. Existe um cuidado para retratar o protagonista de maneira que fique mais fiel à HQ, algo que não é nada fácil, considerando que se trata do Deadpool.
Deadpool é o melhor filme de super-herói dos últimos anos e o protagonista sequer tenta ser um super-herói. Ele não vai ganhar nenhum Oscar, mas pelo menos serviu para mostrar que Ryan Reynolds consegue fazer um bom trabalho, se estiver acompanhado por um bom roteiro e um ótimo diretor.